Diz a lenda que, Muhammad Ali, ao derrotar o tanque George Foreman, cumpriu uma velha profecia africana, no exato momento em que ele ergue os braços ao céu, com o derrotado a seus pés, pingos de chuva se precipitam e, já não chovia no Zaire havia 13 anos, no estádio, a torcida comemorava a vitória do herói e a chuva tão esperada.
Então Muhammad Ali, efetivamente
fez chover, isso o povo do Zaire vai afirmar com certeza, passará centenas
de anos e o fato não será esquecido.
Bom, aquele negão era malandro e,
sendo ele à época, a pessoa mais popular do planeta, posto que, andava cercado
de reis, empresários, presidentes e Beatles, não é muito difícil imaginar que
tivesse amigos na NASA, o que explica o fato de ele ter marcado a luta para
aquele lugar da África e, como era doutrinador, deu o golpe fatal, segundos
antes do tempo previsto para a chuva.
Mas tudo bem, se diz a lenda que
Ali fez chover, eu aceito, essa é uma linda história.
O Valdevino não era ídolo no
planeta, só era conhecido nas imediações do Educandário Dom Duarte e arredores,
mas, guardada as devidas proporções, era o nosso ídolo e, numa tarde de inverno
fechado, fez o sol brilhar.
O ano era 1978 e todos que se
lembram desse ano, ão de se lembrar de que foi um inverno muito rigoroso, por
conta disso, as aulas no Attiê foram suspensas.
Cuidava do meu time e fui ter com o Mello, que morava na Santa Barbara, perto do final do João XXIII, querer jogar eu não queria, mas já havia marcado semanas antes e tinha que cumprir o combinado, não se esqueça de que eu era um guri chato.
Cuidava do meu time e fui ter com o Mello, que morava na Santa Barbara, perto do final do João XXIII, querer jogar eu não queria, mas já havia marcado semanas antes e tinha que cumprir o combinado, não se esqueça de que eu era um guri chato.
Quando cheguei à casa do Mello,
encontrei-o cheio de dedos e com medo de me dizer o que havia acontecido,
apertei-o e ele me disse que um tal de Daniel disse que o jogo só seria
realizado se ele participasse.
O Daniel tinha o apelido de
Maconha, além de ser maior de idade, andava na famosa gangue do Pivete, o
ladrão mais temido da região.
Tendo a liberdade de desmarcar o
jogo, não o fiz, julguei que aquilo fosse desaforo... é, eu disse que era um guri
chato.
Empenhei a palavra e fui ter com os
amigos, encontrei o Viana, o Feliz e o Fabiano, que conversavam amenidades na
bifurcação entre o 12 e o 14. Contei-lhes o ocorrido e disse que ia dar um
jeito na situação, nesse instante, sai do bananal do 12 o Lourival e uma luz me
veio à mente:
- Ô Lourival, o Valdevino está no
pavilhão?
Ele acenou que sim, puxei-o pela
camisa e fomos pelo fundo do 12, os dois pastores alemães vieram em minha
direção e o Lourival os acalmou feito isso gritou o nome do amigo.
O Valdevino ainda não fazia parte do meu círculo de amizades, expliquei-lhe a situação com muita calma, ao fim da minha explicação fiz o pedido e, é claro que ele aceitou, antes tinha que se recuperar da lesão e me mostrou o tornozelo direito inchado.
O Valdevino ainda não fazia parte do meu círculo de amizades, expliquei-lhe a situação com muita calma, ao fim da minha explicação fiz o pedido e, é claro que ele aceitou, antes tinha que se recuperar da lesão e me mostrou o tornozelo direito inchado.
Ah, tenho que citar que, o Valdevino era chamado de "O exército de um homem só".
Nesse ponto, vou dar uma pausa na
narrativa e explicar um fenômeno peculiar do Educa, dá-se a isso o nome de
"fominha", é aquele jogador que, mesmo em coma, não sai de campo.
Todos os internos do Educandário
Dom Duarte eram fominhas, todos, sem exceções... os craques, eram ainda mais.
Era uma segunda-feira, eu e o resto do time acendemos velas na intenção da
recuperação do Valdevino. O amigo tinha 15 anos, a nossa faixa de idade era 11
e 12 anos, o jogo seria às 16:00 horas, quando saímos, ele ainda estava na gráfica,
na Eiras Garcia o vento gelado cortava a alma, tremíamos de frio e de medo de
que o Valdevino não viesse para nos ajudar.
Quando chegamos, o adversário já
estava em campo, se aqueciam para evitar o frio, um terreno baldio na Rua Santa
Barbara seria o cenário da contenda, entramos tremendo, feito ovelhas que
chegam ao matadouro, além do Daniel, havia outro mais velho no time deles.
Juntei o time e disse:
Juntei o time e disse:
- Vamos segurar até o Valdevino
chegar... se ele chegar.
As nuvens negras se mostravam no
céu, uma fina garoa se precipitava e o vento gelado a espalhava entreguei o
nosso dinheiro para o Mello e ele me mostrou o dinheiro deles.
O jogo começou e os dois mais
velhos dominavam, ficamos na defesa, ainda que, a diferença de corpo e de idade
deixasse a situação muito desigual, fomos valentes e, no primeiro tempo eles só
marcaram dois gols.
Intervalo, a vizinhança toda estava presente e riam, pela primeira vez
em suas vidas, estavam vendo um time do Educa sendo arrasado, olhamos em volta
e toda a extensão do muro que cercava o terreno, bem como as lajes e os
barrancos da vizinhança estava tomada de torcedores hostis.
O juiz apitou e a bola era nossa, a
bola foi tocada pra mim, eu a recolhi e a levei pra defesa, repentinamente o
sol rasgou as nuvens negras e se mostrou, olhei pra entrada e vi o Valdevino
entrando no terreno, chutei a bola pra fora e pedi tempo, jogo parado, quando
passei pelo Daniel e o outro mais velho, vi o pânico nos olhos deles, a
torcida, que conhecia o amigo silenciou, tirei a minha camisa e joguei pro
Valdevino, o sol só durou meia hora, o tempo exato que duraria a segunda etapa,
inacreditavelmente, o Valdevino fez sete gols, sob a vigília atenta do sol.
Quando acabou o jogo, saiu
correndo, disse que tinha uma partida de futebol de salão na quadra do colégio
Etchegoyen.
GUERREIROS DO EDUCA,Valdevino, esse nome não me e´estranho .
ResponderExcluirO Valdevino era do 12 e trabalhava na gráfica, foi conosco pro 22.
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