sexta-feira, 3 de março de 2017

Pirataria

Um amigo, que é amigo de profissão e de rede social me perguntou porque eu passei a postar os vídeos com o link do meu blog e assiná-los.
  Para explicar, eu tive que contar uma historia... senta, que lá vai historia.
Tem 12 anos que me mudei pra Bahia, de mala e cuia, com esposa e filhos, e vim morar em Camaçari.
  Camaçari é vizinha de Salvador, quem mora em Camaçari, não fica sem ir, pelo menos, uma vez por mês, à capital e, como eu faço amizade fácil, conheci o Carlinhos.
   Carlinhos é um ambulante que vende artigos piratas na rampa que dá acesso à rodoviária de Salvador, muito comunicativo, como a profissão exige, mostrou-me uns CDs com filmes, os quais eu não havia assistido ainda, na época, eu não sabia da capacidade da minha internet e levei uns 5 CDs à um preço ínfimo, tudo bem.
   Ao chegar em casa deparei com essas porcarias que os caras gravam da poltrona do cinema, uns não tinham sincronia entre a ação e o áudio e, em todos eles, podia-se ouvir as risadas e os palavrões do público.
   Fazer o que???joguei no lixo e esqueci do assunto, todas as vezes que eu encontrava o Carlinhos, conversava, conversava e não comprava nada, no fim das contas era sempre, um bom papo.
   Tentando a todo custo me empurrar alguma coisa, me ofereceu alguns CDs de música, dessas músicas regionais, para não ser mal educado, disse-lhe:
   _Eu gosto de MPB, fora desse contexto, eu fico muito mal humorado.
   E, sempre que ele se sentia prejudicado, vinha com essa:
   _Pô, aí você me quebra.
   Dai em diante, se seguiu um longo tempo, em que ele tentava me empurrar um produto sorrindo e, eu, sorrindo, declinava.
   Nos últimos anos, como é natural acontecer, meus filhos cresceram, me deram netos e compraram carros, não exatamente nessa ordem, parei de tomar o ônibus para ir à capital, então, não vi mais o Carlinhos, nisso, se soma uns bons 3 anos.
   Conhece aqueles tiozinhos que gostam de viajar de ônibus???pois é, esse cara sou eu, driblei a carona dos filhos e do genro e, na véspera do último natal, peguei o buzão para Salvador.
   Na volta, quando principiei a subida na rampa da passarela, o Carlinhos me avistou, abriu o sorriso e os braços e nos cumprimentamos demoradamente.
   _Ô paulista, eu tenho cá um baguio que você vai gostar.
   Pegou uma caixinha de DVD muito bem acabada, colorida e me deu, li a capa:
   _150 vídeos com o melhor da Música Popular Brasileira.
   Já, o Carlinhos batia em minhas costas, com ar de quem já vendeu...._Hum, hum !!!
   Na parte de baixo, em letras menores, estava escrito:
   "extraídas do canal de NILTON VICTORINO FILHO".
   Pensei em soltar uma estrondosa gargalhada, mas, me contive.
   A cara de vitória do ambulante estava muito engraçada.
   Enfiei a mão no bolso das calças e tirei o RG:
   _Carlinhos, olha o nome que está escrito aqui.
   Ele pegou a cédula e a leu em voz alta, pegou o DVD e conferiu.
   Seguiu-se um breve silencio.
   _Caramba, pirateei o amigo.
   _O mínimo que você tem a fazer, é me dar esse de graça.
   Levou só uns centésimos de segundo a reflexão, colocou a caixinha perto das outras:
   _Aí o amigo me quebra.

Ainda invicto


Todo esse tempo e nunca fui assaltado, tem gente que pensa que é mentira, pode ser sorte ou é a lua mesmo.
Dia desses, eu me encontrava no lugar e no dia mais fácil de ser assaltado em Camaçari.
Em frente do Correio, do outro lado da prefeitura municipal, era feriado e se você quiser ser assaltado, esse é o lugar, se for feriado então, prato cheio.
Não que eu quisesse estar ali, estava com pressa e não queria entrar na rodoviária pra seguir viagem pra Salvador.
Havia no ponto sete pessoas, todas elas com celulares no ouvido, uma moto passou e parou ali na frente, dois ocupantes, o da garupa desceu, puxou o revolver que estava dentro da calça e anunciou o assalto, o único que teve o trabalho de tirá-lo do bolso fui eu, as outras pessoas já estavam com eles na mão e só entregaram, fui o terceiro que estendeu o celular, o assaltante fez que não viu.
Estiquei a mão e mostrei o meu celular:
_Meu irmão, não quero essa bosta não.
Recolheu todos os sete e eu enfiei o meu no bolso, subiu na garupa da moto e queimou o chão.
Situação embaraçosa, todo mundo com cara de tacho e, por consideração, me ofereci pra ligar pra polícia, todos concordaram.
_Não vai dar não, esqueci-me de carregar.