sábado, 27 de maio de 2017

A vingança



  Os mais espiritualizados costumam dizer que a vingança é nociva para a alma, mas como eu nunca tive vocação pra santo, prefiro a máxima popular, que reza, "a vingança é um prato que se saboreia frio”... gelado, de preferência.
  Na primeira geração do Dínamo, nos demos ao luxo de ficar 2 anos sem jogar em casa, vários desses jogos foram realizados em favelas, onde impera as leis locais, muitas vezes, apanha-se e, não se tem o direito do revide.
  Eu sempre disse, para o meu time:
  _"Casa deles, regra deles"
  No caso do Dínamo, nunca foi bom negócio revidar, havia sempre muita criança junto.
  A "seleção" disputou um festival, certa feita, na favela do São Remo (Jardim Rio Pequeno - SP), fomos com os 3 times, o feminino, o infantil e o amador...que era chamado de SELEÇÃO.
  Nos 2 primeiros jogos tudo bem, vencemos fácil e levamos os troféus, bem como manda o figurino.
  Na mesa, quando ainda apresentava a ficha do time amador, encostou do meu lado, um jogador e me perguntou:
  _. Trouxe a sacola???
  Um frio percorreu minha espinha, percebi que a partida não ia acabar bem e, como não fujo mesmo de briga, fiquei tranquilo.
  A partida foi de arrepiar, arbitro que só via o que convinha ao dono da casa, violência desproporcional, enfim, tudo que se cabe num bom processo criminal, quatro jogadores expulsos e, como havia sido prometido...goleada.
  O cretino da mesa, atendia pelo apelido de Piúta, no finzinho do segundo tempo, já que tinha o placar elástico a seu favor e a vantagem numérica em campo, resolveu tripudiar...tendo o gol livre à sua frente, sentou-se na bola.
  O Berruga, que vinha no embalo, chutou-lhe...tumulto, minha vontade primeira foi, subir o gás dele, os meninos do infantil e as meninas estavam, do meu lado, fui obrigado a pedir para o meu time ter calma.
  Encerrou-se o jogo, pegamos nossos troféus e fomos para a Avenida Rio Pequeno, esperar o ônibus do Nelcindo Diniz, para ir para casa.
  Anos se passaram, o Dínamo mais forte que nunca, e ...sempre a sombra do passado assombrando, eu nunca esqueci essa partida, ficou entalada como uma espinha de peixe.
  Pois é, como eu disse não sou uma pessoa muito espiritualizada, juro que respeito a paz, mas, eu gosto mesmo é de guerra.
  E qual não foi minha surpresa no terceiro Cingabol, quando foi anunciado um novo time da zona Oeste.
  Chamava-se Real Parque e, adivinha quem era o técnico???
  KKKKKKKKKKKKKK...o tal do Piúta.
  . Na reunião da Secretária de Esporte de São Paulo, passei por ele e ele não me reconheceu.
  . Ficou decidido que, o campeonato seria realizado no módulo pontos corridos, o time que chegasse na última partida com o maior número de ponto seria o campeão, medalhas, troféu e tudo que se tem direito.
  . Meu time já vinha no embalo e manteve a regularidade nas partidas, nos bastidores, haviam dois favoritos ao título...O Dínamo e o Real Parque.
  No dia da partida esperada, teve até participação especial, o Alisson, primo do Maciel Henrique, apareceu...só pra eu lembrar dos tempos do Butantã.
  Quando chegou a hora de entregar os documentos, dos jogadores na mesa, era habito que a Stephanie Victorino fizesse isso, eu pedi para ela me dar a honra e, quando o técnico adversário acabou de conferir os papeis, eu falei, em tom baixo:
  _Trouxe a sacola ???
  Naquele instante, os olhos dele arregalaram-se e...a ficha caiu.
  Para azar dele, meu time voava baixo, naquele dia os meninos estavam implacáveis.
  8 x 1, sem choro nem vela.