quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Ainda invicto



Ainda invicto
  . Todo esse tempo e nunca fui assaltado, tem gente que pensa que é mentira, pode ser sorte ou, então é a lua mesmo.
  Dia desses eu me encontrava no lugar e no dia mais fácil de ser assaltado em Camaçari.
  Em frente ao Correio, do outro lado da prefeitura municipal, era feriado e, se você quiser ser assaltado, esse é o lugar, se for feriado e era. então, prato cheio.
  Não que eu quisesse estar ali, estava com pressa e não queria entrar na rodoviária para seguir viagem para Salvador.
  Haviam no ponto, sete pessoas, todas elas com celulares no ouvido, uma moto passou e parou ali, poucos metro à frente, dois ocupantes nela, o da garupa desceu, puxou o revolver, que estava dentro da calça e anunciou o assalto, o único que teve o trabalho de tirar o celular do bolso fui eu, as outras pessoas já estavam com eles na mão e, só entregaram, eu fui o terceiro que estendeu o celular, o assaltante fez que não viu.
  Estiquei a mão e mostrei o meu celular:
_Meu irmão, não quero essa bosta não.
  Recolheu todos os sete e eu enfiei o meu no bolso, o assaltante subiu na garupa da moto e queimou o chão.
  Situação embaraçosa, todo mundo com cara de tacho e, por consideração, me ofereci para ligar para a polícia e todos concordaram.
_Não vai dar não, esqueci-me de carregar.

O doutor Sócrates

Ser Corintiano hoje em dia é fácil, quando eu era moleque, o Corinthians não era esse fenômeno todo e alternava entre a mediocridade e a raça, raça sempre foi o forte do meu clube.
Mesmo assombrando o mundo com a conquista de 1977, não melhorou muito.
Nessa época, eu era ajudante de pintura de dois inimigos, ambos tinham mais de 40 anos e mesmo tendo opiniões oposta em tudo, se davam bem.
O Sergio era branco, protestante e torcia para o São Paulo, era especialista em acabamento, o Claudio era negro, católico, torcia para o Palmeiras e podia pintar 3 casas numa tarde.
Eu fazia parte da equipe, era menor de idade, tinha 13 anos e, tinha que aguentar os dois, os únicos momentos em que eles concordavam entre si, era quando escrachavam o meu time, é claro que eu me defendia, mas havia passado 23 anos na fila, não havia muito o que falar.
Meu sofrimento acabou no dia que o doutor Sócrates fechou contrato com o Timão e, daí então, eu fiquei insuportável.
Em todas as segundas, depois de um clássico contra um dos times deles, eu vinha gritando, cobrando a aposta e a gozação durava até o próximo domingo.
Num belo domingo, quando eu chegava ao Morumbi, para assistir ao jogo contra o Santos, dei de cara com os dois na bilheteria, na fila da torcida do Corinthians...fiquei de boca aberta.
Ao me ver, os dois disseram juntos:
_Não enche o saco neguinho, viemos assistir ao show do Doutor.