sexta-feira, 7 de julho de 2017

Um título na marra



  . No primeiro ano do Dínamo Futebol Arte, em 1993, ainda havia o Buda na zaga, o Alex e o Ademar compunham o meio de campo com o Alemão, o Cosme, o Dener e o Lucas faziam um ataque rápido e o Elves, nosso goleiro, pegava e marcava gols, mas faltava o título da casa.
  No fim do ano, chegamos à final do campeonato do João XXIII.
  O seu Francisco do Palmeirinha era o organizador, o Barcelona do Jd Arpoador foi o outro finalista.
  Ainda que, meu time estivesse voando baixo, não tínhamos reservas, geralmente, a parada se resolvia na hora e, se alguém se machucasse, ficava em campo ou o time jogaria com menos um atleta, até porque, só possuíamos 10 camisas de linha e a do goleiro.
  O campo do Uirapuru estava lotado, o jogo não deixava a desejar, na véspera, havíamos participado de um festival no Rio Pequeno e a qualquer hora o time ia dar sinais de cansaço, o técnico do Barcelona sabia disso e veio preparado, trouxe dois time para campo.
  A habilidade do meu meio de campo era conhecida, o Alemão e o Ademar mandavam em campo e levamos o jogo para o intervalo, com a vantagem de 2x0, na volta, havia um novo time para enfrentarmos, totalmente descansado, se o nosso time já ‘ficava sem fôlego, eles estavam novinhos em folha.
  Na metade do tempo, eles marcaram o primeiro gol e não demorou para vir o gol de empate, sem nada mais a fazer, mandei meu time recuar para aguentar o empate, foi então que reparei que o time que saíra de campo, estava todo na sombra do vestiário, esperando para voltar na prorrogação.
  Nessa época eu não tinha um auxiliar, minha filha, que seria mais tarde a minha auxiliar tinha 6 anos e estava lá, olhando os irmãos dela...tive que discutir comigo mesmo, para acertar o que eu ia fazer, para sair daquela Zica.
  Meu time, já exausto, não sofreu o terceiro gol e conforme a partida ia se aproximando do final, o adversário foi diminuindo os ímpetos, à essa altura o time reserva deles já se aquecia.
  Fui ao carrinho do meu bebê, que dormia, vigiado pelo cachorro Boomer e peguei a tabela do campeonato, olhava para o jogo, gritava com os jogadores e disfarçava que lia o regulamento do campeonato, pois, sabia que todos me observavam.
  O juiz apitou o termino, o outro time que já havia se aquecido, entrou em campo, para chutar bolas ao gol, como é hábito dos meninos, meu time saiu, mandei que se sentassem na arquibancada, eles estavam só o pó da rabiola, meninos de 12 anos, valentes feito adultos.
  O juiz já saíra do campo e conversava com o seu Francisco, no barzinho dele, tomei folego, vesti a minha máscara de diretor e fui ao seu encontro.
  _E aí, juiz...vai marcar o nome dos batedores agora???
  O juiz, que era filho do seu Francisco, chamou o pai, o pai se mostrou mais surpreso que o juiz, foi chamar o Arlindo e o Nenê, os técnicos do Barcelona.
  Começaram um bate-boca sem fim, acerca do regulamento do campeonato, outras pessoas vieram em socorro do adversário e outras, para socorrer os organizadores, no outro lado do campo eu podia visualizar os meus filhos e os atletas do Dínamo, sentados à minha espera, o bate-boca se acalorava, fomos todos para a mesa, procurar o regulamento, não havia nenhum lá e, era só o que eu precisava saber.
  Com o meu regulamento na mão gritei firme:
  _O regulamento, que todos assinaram, é bem claro... em caso de empate na final, a disputa será nos pênaltis, enquanto eu lia, mostrava com o dedo indicador a cláusula e o parágrafo.
  Os dirigentes do Barcelona mostraram-se indignados, parte da torcida gritava para ter mais jogo, a outra parte pedia para se cumprir o regulamento.
  Respirei fundo de novo e coloquei outra máscara, fui calmamente à mesa e disse:
  _Se vocês fazem tanta questão desse título, podem leva-lo, passa para cá o troféu de vice que eu já estou cansado disso tudo e, caminhei lentamente, para o lado que a minha turma estava acampada.
  Antes que eu pudesse chegar neles, o juiz me alcançou e disse para eu dar a lista dos 5 batedores.
  Ganhamos os pênaltis por 5x3, arrebanhamos o troféu e comemoramos com uma volta olímpica no campo.
  Quando estávamos saindo do campo, bem ao lado da creche, o Alex, que havia pego o regulamento, leu:
  _"Em caso de empate na final, haverá prorrogação com 2 tempos de 15 minutos".
  Arranquei o papel da mão dele e gritei:
  _Cala a boca moleque, quando chegar nos predinhos, todo mundo sai correndo.