segunda-feira, 3 de abril de 2017

A araucária


Um bom observador perceberia que o Educandário Dom Duarte era uma gigantesca obra de engenharia, num tempo remoto, fora erguida uma verdadeira cidade.
A estrada que se seguia do pavilhão 11 era de terra vermelha, milhões de carradas de terra foram despejadas e, se seguia até o cenáculo, para conter essa terra toda, outra quantidade de árvores foram plantadas no lado esquerdo, uma grande depressão precipitava-se no lado esquerdo e levava à parte mais baixa.
Na parte mais baixa ficavam a olaria e os lagos, essa parte do terreno era original da região, dali o seu Paulo tratorista retirava um solo de argila, matéria prima dos tijolos fabricados.
Atrás do pavilhão 11 haviam um canavial e um milharal, essas culturas não tem raízes fortes o suficiente para conter a terra, em épocas de muita chuva, era comum os desbarrancamentos, a parte desse barranco seguia num ângulo aproximado de uns 45 graus, até chegar ao pavilhão 14 haviam duas curvas leves e o barranco era coberto de abacateiros, um largo espaço para um mandiocal e uma longa área de pinheiros que, em dias de chuva de vento, cantavam uma triste melodia.
Abaixo da curva que a estrada desenhava, ficava o bosque do 14, em formato de semicírculo e com uma paineira de entrada, tinha sombra o dia inteiro, a única parte em que os meninos não reclamavam de capinar.
Não creio que ela tenha sido plantada ali de propósito, creio que alguém deve ter feito uma experiência e, por sorte, deu certo.
Digo isso, porque ela se encontrava na metade do barranco, dificilmente alguém plantaria uma árvore que cresce 40 metros, na metade de um barranco.
Os galhos crescem em forma de chapéu, a sombra generosa garantia a ausência de capim, embaixo dela, se podia ver parte das costas do pavilhão e grande parte da estrada, bem como o campo à direita e, as ondas que o capim gordura fazia ao vento.
Para saborear uma boa leitura, a coisa que eu mais amava fazer, tinha que me esconder dos amigos, esse era o meu melhor lugar no mundo, embaixo dela, aprendi todo o sentido da vida, a paz que a araucária me dava, me ligava ao mundo e, me tirava dele para viver as coisas do Lins, do Montello, do Jorge e do Machado.
Num dos galhos havia uma coisa pendurada e, eu supunha que fosse um cacho gigante de marimbondos, não me assustava, pois, ele estava a uns vinte metros de altura.
Eu lia “Memórias póstumas de Brás Cubas” e ia forte na leitura, não ria, sabia que aquela grota poderia reverberar o som e, meus amigos me descobririam.
Terminei a leitura, fechei o livro com calma, coloquei-o na barriga, encostei a cabeça no monte de folhas de pinheiros e senti o cheiro agradável que as folhas jogavam no ar, acomodei-me e dormi.
Acordei súbito ao ouvir um barulho semelhante ao de uma bomba que me foi arremessada, frações de segundos e o zumbido terminou numa grande explosão.
Aquilo não era cacho de marimbondos e sim, um enorme cacho de pinhões, caíram ao lado da minha cabeça e se espalharam no chão, fui tomado de uma felicidade sem igual, acabara de descobrir que a araucária dava frutos, enquanto enchia os bolsos pensava em chamar o sexteto e anunciar a descoberta e... não precisei... eles já haviam ouvido o barulho e já estavam recolhendo os pinhões.
Pela tarde, haveria fogueira e banquete.