sexta-feira, 1 de setembro de 2017

A primeira vez que eu vi o mar




  Nasci na capital de São Paulo e a minha primeira infância foi passada num colégio de freiras no Ipiranga.
  Tinha 4 anos e não conhecia a leitura ainda, mas, conhecia o mar dos versos de Vicente de Carvalho, que a irmã Dolores recitava e das canções de Dorival Caymmi.
  No mês de Janeiro, ficávamos acampados em Bertioga, numa escola municipal, no primeiro dia, mal o sol nascia, as freiras nos levaram para a praia e era, na época, uma praia vazia , antes de vermos o mar, já ouvíamos o seu barulho, com 4 anos eu tive medo.
  Quando pisei na areia, vi aquela imensidão, lá longe o sol principiava a subida e parecia pequeno, diante da imensidão daquele azul todo.
  Os outros meninos já estavam dentro d'água e eu olhava tudo com medo, seria redundância dizer que eu me sentia pequeno, já que, eu era realmente pequeno, uma onda veio me buscar, deixei que ela cobrisse os meus pés, a água estava gelada, me afastei.
  No horizonte, o sol já subia metade do corpo, a minha pouca idade tentava entender, aquilo tudo era muito maior que os versos do poeta ou a música, a madre Dolores Brasil chegou perto e pegou minha mão:
  _Mar, esse é o Nilton...Nilton, esse é o mar.
  Foi andando comigo para dentro da água, quando a água já chegava na altura do seu joelho, parou e ficou esperando que eu soltasse a sua mão, soltei e fui ter com os outros guris.
Lá para o meio dia, não havia fome nem ninguém que me tirasse da água.