quinta-feira, 13 de abril de 2017

Adeus Elis





  Em 19 de Janeiro de 1982, soubemos da morte da Elis Regina, logo pela manhã.
E, não foi a morte de uma artista, foi a morte de uma pessoa próxima, como se fosse uma pessoa que eu conhecesse da infância, meu modelo de mulher, agora eu tinha 16 anos e, tudo que eu sabia de música, era pela voz dela, através dela, eu conheci o Clube da Esquina, o balanço de Tim Maia, o som de Gilberto Gil, João Bosco, Ivan Lins e a poesia de Belchior.
  Ouvia uma música, não importava o estilo, e já pensava:
  _Putz, na voz da Pimentinha, isso fica legal.
  Eu e meus amigos do colégio e, estudávamos no E.E.P.G Alcides da Costa Vidigal, no ginásio, resolvemos que não iriamos para a escola nesse dia, no dia seguinte fiquei sabendo que os poucos guris que foram para escola, tiveram que voltar, todos os professores e a diretora, haviam faltado.
  Alguns dos amigos disseram que iam ao velório, eu não fui, até hoje, sou avesso à funerais, fiquei sozinho e fui andar.
  Como não ia usar o dinheiro da condução, resolvi tomar um refrigerante.
  Fui até o bar do Barroso, puxei o banquinho, pedi a Coca e me sentei, o Barroso estava com os olhos vermelhos, o homem era um troglodita e eu duvidei que fosse por conta do luto, mas, para me contrariar, ele já foi falando da morte da Elis e, sem qualquer vergonha, chorou compulsivamente, depois se retirou para atrás do balcão.
  Eu estava em silencio e, assim permaneci, na mesa atrás de mim, haviam 3 senhores, que bebericavam suas cervejas tranquilamente, a esposa do Barroso saiu da cozinha, passou pelo balcão, me acenou com a cabeça e foi ligar o rádio.
  O locutor falava da perda da grande estrela:
  _Essa gaúcha de Porto Alegre...
  Vendo que a notícia ia fazer mais infeliz o marido dela, girou o botão e desligou o rádio.
  O mais velho, dos homens da mesa falou:
  _Gaúcha, veja você, eu sempre achei que ela fosse daqui mesmo. Ela tinha o jeitão daquele pessoal da Mooca.
  O homem do meio da mesa, tirou o chapéu:
  _. Jurava que ela fosse mineira.
   O terceiro não disse nada, tinha os olhos fixos no copo, e o silencio imperou no ambiente, uns minutos mais tarde, ele pegou o maço de flores, que havia acomodado no colo, levantou-se e disse aos outros:
  _. Vamos lá, prestar nossas homenagens.


Heranças de uma geração.


As obras "Como nossos pais" e "Aos nossos filhos", não são, como os títulos podem sugerir, respostas de uma a outra ou continuações, são momentos brilhantes de jovens que, viveram num país sem esperanças.
 Vítor Martins pede paciência aos seus contemporâneos, posto que, um sol brilhará e Belchior ironiza o momento carrancudo, diz que, apesar da carranca, o espelho nos denuncia.
Dois poetas que viveram o mesmo momento, vendo-o com a diversidade dos pensamentos, as duas obras são imortais, heranças para a humanidade.
Em comum mesmo é, o fato de, as duas terem sido imortalizadas na voz, no riso e no choro da imortal Elis Regina...a voz.