quarta-feira, 15 de março de 2017

Questão de sorte

Em 1991, eu trabalhava na Usina de Traição, um posto da Eletropaulo e a Avenida Ayrton Senna se chamava Avenida Jânio Quadros.
Nelson Mandela havia acabado de ser libertado e o governo do estado de São Paulo o recebeu com honras de chefe de estado, por questões de segurança, o itinerário da comitiva não foi divulgado, pela televisão o vimos chegar e nos contentamos com tal honra.
Não existia um ônibus que fizesse o caminho de Pinheiros até a Ponte João Dias, onde se localiza a Usina, portanto eu tinha que descer na Paineiras e fazer esse caminho de seis Quilômetros, beirando o muro do Jóquei Clube, na sola.
Quando ouvi a sirene dos batedores, já estava no meio fio que separa as duas pistas da avenida, o semáforo fechou e a minha ficha caiu, dentro da Limusine negra estavam o futuro presidente da África do Sul e a esposa.
Do lado esquerdo do carro, o meu lado, a esposa Winnie apoiava o cotovelo na janela e segurava a porta com a mão esquerda, em seu dedo médio reluzia um anel de ouro que ostentava uma enorme pedra azul.
Motos da PM à frente e atrás do carro e eu estava a menos de dois metros, alguns passos firmes e fiquei ao lado da Limusine e como alguém que não perde a chance que cai do céu, me curvei, peguei a mão da Winnie e beijei, o simpático Mandela sorriu e eu o cumprimentei inclinando o corpo na Angola.
Diante da cena, não restou aos seguranças nada, além do sorriso cúmplice e o coçar de cabeça... e o sinal ficou verde e a vida continuou.
Existem coisas e fatos, que a sorte traz que soam como inacreditáveis, a sorte não manda dinheiro, ela te preserva e te mostra que a vida é só uma questão de estar no mundo em paz.
Quando o Adilson (Ovinho) foi encontrado por sua família, contou-lhes que, eu era o amigo que sempre o consolava nos piores momentos de solidão, ele não se conformava por ser órfão, nos domingos de visita sempre saíamos em aventuras.
Fui visitá-lo em sua nova casa e a irmã me disse:
_Vou compensá-lo por aliviar a dor do meu irmão.
Chamava-se Claudia e era empresária do ramo artístico, tinha uns 25 anos e uma beleza invejável, eu disse que fiz o que um amigo faz e dei de ombros.
Quando a banda Earth, Wind and Fire foi trazida ao Brasil pela Chic Show, contou com o apoio de uma jovem empresária paulista.
Eu jogava bola no campo do 14, quando me gritaram do barranco:
_Tem uma mulher linda, num Porsche te chamando, Niltão.
Corri e subi o barranco e vi a Claudia na área do pavilhão, tinha uma sacola de Shopping nas mãos.
_Vai se lavar e veste essas roupas, que hoje te pago a dívida do meu irmão.
E foi assim, que o cara mais pobre do mundo, assistiu ao show da maior banda de todos os tempos, em cima do palco do Anhembi.