terça-feira, 7 de março de 2017

Meninas e meninos são diferentes...


E, se engana quem pensa que é função dos avós educar os netos, educar os filhos já foi um serviço desgastante, ver os filhos desobedecendo a tudo e dando certo na vida, nos faz ver que a vida vai mesmo é com desarmonia. Quando fomos pais, carregávamos o fardo da responsabilidade de, sem saber o resultado, dar o nosso melhor pra não falhar, envelhecemos e descobrimos que não precisava ser tão duro, de um jeito mais tranquilo se conseguiria o mesmo resultado. Tornamo-nos avós, quando temos a tranquilidade da visão longa e todo o carinho que faltou aos filhos, os netos ganham com juros e correção.
Portanto, nossa função é ensinar aos netos a fazer foleragem, ver um neto arremessando uma pedra ou subindo numa árvore, tem o mesmo peso de um diploma do filho.
Nessa batida, ensinei meu neto Miguel a jogar dominó, não aquele ensinamento didático, de regras e tudo mais, aquela coisa chata de escola, ensinei como o dominó é jogado nos bares, olho no olho, gritando, contando pedras, blefando e xingando o adversário.
É da natureza dos meninos, essa competitividade sadia, aprendeu comigo e desafiava o pai, depois de certo tempo, passou a bater no pai e a chama-lo de marreco.
Uma tarde simulei uma aposta, usamos as notas falsas do Banco Imobiliário começamos as partidas, quando ganhava gritava pra comemorar, quando perdia alegava que havia sido roubado. Tarde à dentro prossegue o jogo, numa concentração de dar inveja num profissional, meu dinheiro foi acabando, travou o jogo e na contagem das pedras, virou a bucha de branco:
_Toma marreco. E subiu na mesa, pôs-se a dançar.
Falido e sem graça, não me restou nada, senão cobrir o rosto e, diante da dança da vitória, lamentar:
_Meu Deus, eu criei um monstro.
Dia desses a neta estava em casa, resolvi ensinar o mesmo jogo pra ela, é claro que a menina é mais delicada por natureza e a gritaria a assustou no início, mas eram dois mestres a ensiná-la e foi fácil, bastaram algumas horas e estava entendendo tudo.
Bateu o jogo, timidamente colocou a pedra na mesa e anunciou a vitória, o primo, apesar de ser mais novo, pegou a pedra e disse:
_Julia, é assim que se faz_ bateu a pedra com violência e gritou:
_Bati marreco.
Tive a nítida impressão de que ela jamais faria a coisa desse jeito, ter ganhado ou não, não lhe fez a menor diferença.
Recolhi todas as pedras, embaralhei-as e cada qual pegou as suas sete.
_Julia meu amor, Já que você bateu agora você sai. Disse eu.
A menina levantou-se da cadeira, foi até a minha, me deu um beijo na testa e disse:
_Depois eu volto tá vovô. Disse isso e foi-se embora.
Com a boca aberta ficamos, eu e Miguel, sem acreditar no que havia acontecido.
Ficamos assim por uns longos minutos, depois o neto bateu no meu ombro:
_Deixa vô, ela é menina.

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