sábado, 29 de abril de 2017

O Francisquinho.


É claro que houveram tempos difíceis, em que a Osvaldão foi assolada pela violência e nos afligimos, vendo tiroteios à luz do dia, no entanto, isso compreende um curto espaço de tempo e a rua voltou a ser o que sempre havia sido, uma rua de paz.
Era habito dos moradores, sair para conversar na rua, algumas mulheres punham as cadeiras do lado de fora e, enquanto colocavam os papos em dia, cuidavam de suas crias, que jogavam bola ou bolinha de gude.
Por essa época, eu trabalhava à noite, aos fins de semana peguei o habito de descansar numa placa de concreto que ficava bem na frente da minha casa, debaixo e, à sombra da minha paineira.
Sempre tive o dom de ouvir e, sempre fui recompensado por isso.
Por esse tempo, conheci o Francisquinho, pai da dona Maria, que é mãe da Cristiane Idalia e dos gêmeos Cosme Teodoro e Dam Santos, em quase todos os sábados e domingos ele vinha pra prosear comigo, se eu não estivesse em frente de casa, ele batia palmas e gritava:
_Seu Mirtu está em casa???
E eu já saía reclamando:
_Pô Francisquinho, se vai falar meu nome errado, pelo menos fala Nirtu.
Então ele fazia uma cara de moleque gaiato, que fazia lembrar o seu neto Terê e caçoava:
_Esta não, seu Mirtu, esta não.
Apesar da idade avançada, enquanto contava suas histórias e anedotas, gesticulava com a rapidez de um jovem e, quando eu oferecia um lugar a meu lado ele se recusava, ele tinha que fazê-lo em pé, de frente pra pessoa que o ouvia.
Geralmente coisas de sua terra Ipiaú na Bahia e todas ligadas às pessoas de lá e ao cangaço.
Na verdade o cangaceiro Paulo Silvino nunca chegou a invadir a cidade, todas as histórias giravam em torno da expectativa e essas narrativas datavam do tempo de sua infância, eram portanto, as memórias de uma criança.
De tanto me ambientar nas narrativas, virei um especialista no assunto e as vezes ele começava:
_Chico da Zélia, lá vinha montado em seu cavalo...
E eu perguntava:
_Qual, o filho de Mané Filó???
_Esse mesmo, seu Mirtu, esse mesmo.
Isso, acontecia em todos os sábados e domingos e, quando a tarde se fazia noite, ele olhava pro lado de sua casa e se despedia.
Boa noite seu Mirtu, a gente proseia outra hora.
Grande alma que, uma pessoa só poderia conhecer na rua Osvaldão.

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