terça-feira, 11 de abril de 2017

O quadro


Fiquei mesmo bolado com aquela postagem do casal de monstros do 14, pensei até em excluir aquela postagem, quase o fiz, porém, num outro blog achei um comentário de um ex-interno do Educa que dizia:
_Sofri muito lá, apanhava muito do Odilon e dona Ana Saback Gomes.
Isso mesmo, um nome pomposo e um caráter duvidoso... deixa a postagem lá, do jeito que ela está.
Não obstante, empatei o placar, contando a passagem do seu João e dona Helena, com a bela filha Lúcia e agora vou desempatar e abrir uma goleada.
O seu João já tinha certa idade e ficou por pouco tempo, se aposentou e foi pra Minas.
Nos fez muita falta e, de um larista pra outro, ficávamos sob a tutela do Luis Antonio.
O casal que veio depois, seu Claudio e dona Dulce, se tornou, pra nós, inesquecível.
O Claudio era desses caras que sorriem fácil e que ensinam conversando, olhando nos olhos, sem superioridade.
Toda tarde descia pro campo e jogava bola com os meninos.
A Dulce era quem mandava de fato, dessas mulheres totalitárias que veem tudo e tomam conta de todos, tinha o urro de uma leoa e a delicadeza de uma gata, além de ser muito bonita.
Cansei de chegar da escola em horário que, geralmente, estariam todos no campo e, estavam todos em reforço escolar, na área do 14, o Claudio esperava, com a bola nas mãos.
Ninguém sonhava em questionar o que ela falava nem os mais ativos ou revoltados,
Um dia, desceram uns internos do 17, disseram que havia um acerto de contas com uns guris do Taboão, passaram para nos convidar a tomar parte na peleja.
Lógico que nossos olhos faiscavam de desejo e, nos preparamos para acompanhar os vizinhos nessa empreitada.
A dona Dulce havia ouvido a conversa toda e saiu na área:
_É muito feio, isso de viver de violência.
A vontade passou na hora, seríamos capazes de qualquer coisa, menos de magoar a dona Dulce.
Pior pros amigos do 17, depois ficamos sabendo que os pobres apanharam feito boi ladrão.
O seu Claudio era formado em engenharia e costumava pintar uns quadros que imitavam tendências cubistas, o que ele mais gostava era um de nudez, cuja modelo, havia sido a esposa.
Pendurou o tal quadro na sala, perto da porta do refeitório, para que todos pudessem visualizar a sua obra de arte.
Toda vez que eu passava, virava o quadro, algum tempo depois, eu voltava e a mulher do quadro estava à mostra, eu olhava em volta e tornava a virar o quadro, todo santo dia.
Um dia, fomos ao lago da olaria e o Claudio nos ensinou a usar a tarrafa, lua cheia, muito peixe.
A dona Dulce era nativa do litoral de Santa Catarina e nos preparava uma saborosa moqueca, enquanto ela estava na cozinha, ficamos sentados no refeitório, uns vinte guris e o seu Claudio, eu havia acabado de virar o quadro, ele olhou e disse:
_Já que, estamos todos reunidos, vou aproveitar e tirar uma dúvida com todos vocês...
O cheiro que vinha da cozinha inundava o pavilhão e nos fazia salivar, enquanto preparava a refeição, cantava uma canção de escravos, imaginei que ninguém prestava atenção na conversa do seu marido, ele prosseguiu:
_Qual de vocês, é que vira esse quadro a toda hora?
Os aromas dos temperos misturados à voz da cozinheira invadiam o ambiente e nos transportava pra outro mundo e o Claudio com aquela conversa mole, levantei a mão.
No mesmo instante percebi que todos os meninos, grandes e pequenos, haviam levantado à mão, todos se espantaram e puseram-se a rir.
Diante do espanto do larista, foi o Sergio quem se pronunciou:
_Veja bem seu Claudio, temos a dona Dulce como a uma mãe, quem é que quer ver a sua mãe, nua na parede?

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