quarta-feira, 21 de junho de 2017

A história de um gol.




  Com a licença do leitor, vou contar a história de um gol, não a mera narrativa de um gol magnífico e inesquecível, não... Fazendo isso, vou lembrar-me de pessoas importantes, pessoas que já se foram e, pessoas que são vivas vou contar sobre a evolução de um menino, não um simples gol de placa e sim o gol que marca a evolução de um homem.
  Já contei que assistia os mais velhos, jogando no Grêmio, sonhava em vestir a camisa preta e fazer um gol no campão seria a realização de um sonho, mas não nasci com a habilidade que se exige numa seleção, julguei que poderia haver um jeito que me encurtasse o caminho.
  Se por um lado, eu não tinha a habilidade motora, por compensação, Deus me deu uma capacidade intelectual fora do comum e, sendo assim, eu poderia aprender as coisas só olhando.
  Para encurtar o tempo aprendi a chutar, ficava observando o Roda, dono de uma bomba que fazia a trave de ferro zunir, toda tarde, no campo do 14, ele pegava a bola de capotão e sentava o dedo nela.
  O pobre do Zé Maria queria reclamar, mas a miséria do negão era cabuloso, todo mundo tinha medo dele, vira e mexe, ele quebrava as traves de madeira, isso, quando não estourava a bola.
  Num belo dia, durante o campeonato interno expliquei para ele o que ele tinha que fazer para escapar da marcação cerrada do time do 15 e, ele marcou quatro gols, com isso, consegui o respeito dele, o medo que eu tinha dele se foi e essa foi à primeira lição:
  Se existir o respeito, não tem necessidade do medo.
  . Para pagar o favor, no campo do 14, o Roda, que era a pessoa mais antissocial do mundo, me ensinou a arte de bater na bola.
  Passei a cobrar todas as faltas, escanteios e tiros de meta.
  . Para ser convocado, aprendi a segunda lição:
  “Uma andorinha não faz verão”.
  Junto com o Feliz e o Viana, formamos um trio que assombrou o campeonato interno de 1980, a convocação veio porque o Matheus do 11, que já jogava no Grêmio, convenceu o professor Claudinei que o trio do 14 era muito bom, o professor teve que chamar nós três.
  Quando chegamos ao Grêmio, tinha o Faustino do 16, o André do 20, o Dalcides do 13, o Matheus do 11, o Celso do 24 e o Mocó do 21... todos fora de série e todos eram volantes, entendi que, dificilmente eu vestiria a camisa 5.
  Terceira lição: Adeque o seu sonho à sua realidade.
  Nessa altura, já havia aprendido tudo, sobre todas as posições e, já era o técnico do time dos pequenos do 14, virei coringa e dono da camisa 15, entrava no segundo tempo e segurava o jogo... Quarta lição: “A paciência é a maior de todas as virtudes”.
  Nesse ponto, aconteceu uma coisa estranha, ao lado do professor, observando os jogos, aprendi a chave do jogo.
  Não fazia mais questão de entrar em campo, perdíamos o jogo contra os “Pequeninos do Jóquei” e o professor me chamou, disse que eu tinha que consertar a falha na lateral esquerda, o chamei de lado e disse que ele tinha que colocar o Celso em jogo, que era mais forte e mostrei para ele o lateral que começava todas as jogadas, completamente atordoado, ele chamou o Celso e passou as instruções que eu havia dado, fiquei ali, ao lado do professor Claudinei, que era uma espécie de Robin Hood, trabalhava numas três escolas particulares, ganhava muito dinheiro delas e, trabalhava de graça no Educandário Dom Duarte.
  Bom, o Celso entrou em campo e marcou o adversário certo, anulando a saída de bola deles, nosso time cresceu e empatou o jogo, depois da expulsão do Celso e do guri que ele marcava viramos o jogo.
  Ganhei o respeito do professor e virei auxiliar dele, ali, ao lado do campo o professor me ensinou o que me faltava de esquema tático e de amizade.
  Mas, treinava junto com os guris, o sonho do gol ainda estava presente, a quinta lição:
  “Esteja preparado para quando a sorte lhe sorrir”.
  E a sorte sorriu, o Baianinho do 11 estava suspenso do campeonato do DEFE e o Arthur do 19 estava doente, o professor mandou que eu usasse a camisa 9 nesse jogo, quando passei perto da arquibancada, vestindo a camisa preta do Grêmio, os amigos aplaudiram... me lembro da alegria do Pelezinho do 12, cujo talento justificava o apelido, usava a camisa 10 e disse que ia me ajudar.
  No outro lado do campo, estava o Guarani de Campinas, caso o jogo terminasse empatado, a vaga seria deles, enquanto amarrava os cordões do Kichute agradecia aos céus a oportunidade e a honra de servir o meu time em companhia dos meus amigos, tinha a certeza que faria um gol naquela manhã nublada de domingo, nem que fosse de canela, nem que fosse de nariz.
  Começa o jogo e mesmo o Guarani podendo empatar, foi para cima, nosso time estava nervoso e sem comando, mal conseguimos passar do meio de campo, dois jogadores marcavam o Pelezinho e ele mal conseguia dominar a bola, me dava vontade de voltar para defesa, ajudar os amigos, quando eu ameaçava em fazê-lo, o professor gritava para eu ficar no ataque, defendendo do jeito que dava, conseguimos ficar sem tomar gol.
  Estava posicionados entre os dois zagueiros do Guarani, na linha de meio de campo, na hora do escanteio do adversário percebi que o Pelezinho fez sinal para o André, o Pelezinho entrou na área e o André saiu, foi se posicionar na intermediária, percebi o que estavam tramando, com os olhos mostrei para o volante que estava exatamente no meio dos zagueiros, o passe teria que ser com curva e, isso ele sabia fazer com maestria.
  Cobraram o escanteio, o Faustino tirou de cabeça, a bola foi cair no pé do Pelezinho, correram para pegar o camisa 10 e esqueceram-se do André, o neguinho ameaçou de correr pelo lado esquerdo foi seguido e, sem olhar, tocou no lado direito para o André que, livre de marcação, dominou rápido, com rara habilidade enfiou a bola nas costas do primeiro zagueiro, tirando-o da jogada, quando eu a matei no peito do pé, interrompi a curva que ela ia fazer, o último zagueiro passou lotado, rompi a linha do meio e tinha a bola sob meu domínio, vendo que eu vinha sozinho em sua direção, o goleiro se apavorou e saiu para me pegar fora da área, tarde demais, antes que ele chegasse, toquei de chapa e fiquei olhando o arco que ela fez, caiu perto do travessão e estufou a rede, queria correr para comemorar a beleza daquele gol, qual nada, os amigos pularam em cima e me derrubaram, quando consegui sair do bolo de gente, o juiz estava tirando a torcida de dentro do campo.

terça-feira, 20 de junho de 2017

O Luiz Paulo.




  Esse era muito popular entre os internos, pelo fato de ter sido um interno e ser muito jovem.
  Negro, d'um negrume que reluzia, num tempo de forte racismo, era a pessoa que contava as melhores piadas de negros.
  Sua função, no colégio era a de emergente, ele substituía o larista em sua folga e nas férias, mas acabava que fazia outras funções, uma delas era a de motorista da Kombi.
  Seu porte, esguio e muito magro, rendeu-lhe o apelido de formigão, falava alto e tinha um sorriso contagiante, conseguia ser popular entre os internos, sem cair em desagrado com a diretoria.
  Quando a diretoria dos "irmãos" foi embora, ele assumiu a função, que antes cabia ao irmão Augusto, passou a buscar a comida, no Mercado Municipal de São Paulo e levar as pessoas para a Liga das Senhoras Católicas...E, ele sempre dizia, em tom de piada:
  _. Para pegar os pés de frango, eu levo os meninos do 14, que era o pavilhão de pretos, para ir às festas da Liga, eu levo os branquinhos do pavilhão 22.
  E, piadas à parte, a divisão de menores nos pavilhões, seguia mesmo essa regra.                   
  Com a nova diretoria, o Luiz Paulo ganhou o status de intocável, passou a ser o motorista da própria diretora, a dona Camila.
  Como eu disse, ele era muito querido, em qualquer rodinha que chegava, era bem recebido, até técnico da seleção mirim, ele se tornou.
  Um dia, quando terminávamos o treino de futebol no campão, ele me disse que fosse logo para "casa" e me trocasse rápido, pois iríamos sair num rolê louco, fui correndo para o 14, que nessa época não tinha larista, o Odilon havia sido demitido e a fama dos meninos do lar 14, dava medos nos pretendentes ao cargo, a responsabilidade ficou nas mãos do Luiz Antônio, o mais velho de todos, que tratava à todos como se ele fosse um irmão mais velho, o pavilhão, nessa época era o paraíso na terra.
  Quando eu estava, de frente do espelho da área, ajeitando o Black, ouvi a buzina, olhei para a  estrada que levava ao cenáculo e havia uma Mercedes Bens estacionada, o sol das onze horas batia e reluzia no verde metálico do carro importado, o motorista saiu, pra mostrar a roupa, trajava um agasalho completo, verde com duas listras brancas nas laterais e um tênis Nike branco, só professores de educação física os usavam em 1979, uma grande corrente de ouro no pescoço, completava a estica...é, o negão estava em punga mesmo.
  E, fomos ao rolê, dois negrões num carro importado, ao som de Joe Egan e Isley Brothers...sensacional.
  A missão era simples, ir até a outra escola, onde a dona Camila também era diretora, que ficava no Quilômetro 35 da Raposo Tavares, consertar o pé da mesa do altar da igreja e pendurar uns quadros da santa ceia, nas paredes laterais, quando chegamos nas proximidades do colégio, ele me deu o volante e, no banco do passageiro, passou instruções para eu conduzir e estacionar o carro, apesar de grande, eu tinha 13 anos.
  Faltavam uns cinco quarteirões pra chegar ao nosso destino, quando uma viatura preta e vermelha nos abordou, descemos do carro e notamos que os policiais estavam mais nervosos que o normal, abordaram- nos de longe, no que eu abri a porta, o policial que havia se posicionado ao lado, engatilhou a arma e tremia, o que estava na porta do Luiz Paulo fez pior, quando ele abriu a porta, o policial caiu para trás e se protegeu, de joelhos, as armas sempre na nossa direção, o terceiro policial se posicionou na nossa frente e portava uma submetralhadora, já destravada, o motorista já estava fora da Veraneio e com um pé fora do carro e mais outro dentro, tinha nas mãos uma escopeta.
  Eu tinha medo de levantar as mãos, qualquer movimento em falso, seria o nosso fim, barulhos de sirene, mais duas viaturas chegaram, em 3 segundos estávamos cercados por todos os lados, gritaram para que colocássemos as mãos na nuca, todas as armas acompanharam os movimentos, mandaram que nos deitássemos, reparei que apesar de estarem ameaçando os dois, todos davam mais atenção para o Luiz Paulo, todos os olhos estavam voltados para ele.
  _. Conhece o doutor Toledo? -Perguntou o tenente.
  _. Conheço, eu trabalho para a filha dele.
  . Esse policial saiu, foi acionar o rádio e levou a carteira do Luiz Paulo com ele, os outros ficaram nas mesmas posições, alertas...os dedos coçando, eu soava frio e mentalmente rogava:
  Valha-me São Jorge.
  . Por incrível que pareça, essa não foi uma cena de racismo...dois pretos num carro importado e coisa e tal, não foi isso, apesar de, nesse tempo a corporação ser totalmente constituída de policiais racistas, afinal estávamos em 1979, "pouco preto na TV" e tudo mais.
  O que aconteceu de fato foi:
  Nessa época, o bandido mais procurado pela polícia era um tal de Chêpa, assaltante de bancos famoso, que fugia da polícia na base de tiros e já virava herói do povo...pra nosso azar, o Luiz Paulo(aos olhos dos policiais) era a imagem do bandidão.
  Depois que o tenente voltou com o esclarecimento, mandou que os caras nos liberassem, fixei os olhos no único policial que havia permanecido calmo, o motorista, ele media uns 2 metros e portava uma medalha de São Jorge, lentamente desengatilhou a escopeta e se encaminhou na nossa direção e, disse rindo:
  _Menino, você é a cara do meu filho. E, foi-se sorrindo. Isso me desconcertou, fiquei quieto, mas pensei:
  Que coisa louca, um instante atrás, um homem esteve prestes a fuzilar um menino que é a cara do filho dele, Deus me livre, de uma profissão dessas.
  Fomos fazer o serviço da igreja, conversamos calmos e, ainda sem acreditar em tudo aquilo, não conseguíamos rir dos fatos, o Luiz Paulo disse que foi muito azar.
  _Azar ou sorte, tudo depende do ponto de vista. Disse eu.
  _. Como assim??_perguntou o meu amigo.
  _. Você já se esqueceu que era eu que dirigia o carro, quando fomos abordados??
  Ele tomou um susto e voltou a sorrir, terminamos o serviço e saímos, íamos abastecer o combustível do carro, e, por si só, isso já seria uma ótima história, para se contar...
  Na altura do Rancho da Pamonha, havia um posto, quando nos aproximávamos desse posto de gasolina, ele encostou o carro e trocamos de lugar, disse que era para gastar mais um pouco da sorte.
  Manobrei e entrei no estacionamento, tudo com perfeição, quando parei o carro, pelo fato da maçaneta da porta de trás estar com defeito, tive que abri-la, para fazer uma piada de chofer, conforme eu abria a porta, fiz uma mesura, como se abrisse a porta para rainha da Inglaterra, nesse momento, uma mulher muito branca e gorda saía da loja de conveniências, portava uns sacos de compras, ao ver o Luiz Paulo sair do carro, em seu agasalho reluzente, estatelou os olhos e ficou sem fala, de tanto espanto.
  Ai meu São Jorge, ia começar tudo de novo, quase que o Luiz Paulo volta para o carro, dessa vez iríamos correr muito.
  A senhora se recuperou e gritou bem alto:
  _JOÃO DO PULO?
  E caminhou em nossa direção, o Luiz Paulo, tomado ainda pelo susto, não falou nada, ela o abraçou e beijou-lhe nas faces, antes que o Luiz Paulo tivesse chance de se recompor e pôr tudo a perder, puxei-o dos braços da senhora e disse:
  _. Minha senhora, deixe o João em paz.
  O Luiz Paulo entendeu a situação, sorriu e fez um gesto de calma para mim, eu soltei a senhora, que agora agarrava ele, nessa altura, outras mulheres e homens saiam da loja, os frentistas se juntaram à pequena multidão.
  Todos pediam autógrafos, o dono do restaurante pediu que entrássemos no seu estabelecimento, por conta da casa, na hora da sobremesa, ele pediu que um funcionário tirasse fotos dele... ao lado do João do Pulo.
  A vida é assim mesmo...pela manhã você é confundido com um bandido, à tarde você vira herói.

domingo, 18 de junho de 2017

A cobra da estrada



   A copa de 1978, aquela que fomos garfados pela Argentina, assistimos na sala do pavilhão 14, aquele ano fez muito frio, o chão quadriculado de marrom e bege deixou marcas em nossos traseiros. Os jogos foram disputados à noite, então corríamos da escola para chegar em tempo de não perder um minuto de jogo, lembro que o Mathiole e o Dalcides discutiram no recreio e chegaram mesmo a ficar beiço a beiço, numa atitude de vias de fato, o padre Paulo chegou e separou-os, agarrado pela turma do deixa disso, o Dalcides gritou em tom ameaçador:
  _8 e 15.
  Isso, equivalia à uma marcação de briga na hora da saída, posto que, o fim do horário das aulas se dava nesse exato horário, nos corredores começou o alarido, conversas e expectativas por conta da tal briga.
  O grande problema é que... era quinta-feira, logo mais o Brasil iria enfrentar a Áustria.
  É lógico que, quando o sinal das 08h15min bateu, todos correram, para os seus pavilhões e, nem se deram conta da briga marcada.
  O fato é que o Dalcides e o Mathiole nunca brigaram e ninguém mais tocou nesse assunto.
  Ruim mesmo, era ser criança e ter que aguentar, durante o jogo, as sandices do Seu Odilon.
  Na cabeça dele, a culpa toda foi do goleiro Leão.
  Quando o guarda metas da seleção fazia uma defesa, ele gritava:
    _Esse Lião é muito macho.
  Quando ele tomava gols, o grito era outro:
    _Esse Lião é um méida.
    A culpa mesmo eu colocava no Claudio Coutinho, o técnico, que bateu o pé e não levou o Falcão.
  Nos dias seguintes tinha uma narrativa diferenciada do jogo, ela era feita pelo Lucídio, um neguinho que gostava de contar histórias e interpretar aventuras, usava uns sapatos de bico fino e calças pula brejo, sua figura lembrava o personagem do Al Jolson no filme "O cantor de Jazz", com uma diferença, o ator se pintava e o Lucídio era daquela cor mesmo.
  Sempre que o neguinho se apresentava todo mundo parava, ele fazia vozes diferentes, quatro ou cinco vozes, que conversavam entre si... um show mesmo, ele jurava que iria trabalhar na televisão.
  O preferido de todos era o Carlitos do Chaplin, fazia isso com propriedade e por força do hábito e, devido à um problema físico, andava sempre com elas fechadas e quase não conseguia dobra-las.
  Por conta disso, não podia ser utilizado no eito, não dava conta de carpir por muito tempo e, como esse era o castigo predileto do Seu Odilon, ele se vingou.
  Para indignação de todos, foi mandado a trabalhar na olaria, onde eu trabalhava, todos os menores do pavilhão14 me pediram para tomar conta dele, alguns me ameaçaram, se não o fizesse.
  Fui junto a ele no primeiro dia, demos a volta na horta do japonês, já que, o declive da descida do campo do 14 era muito acentuado para ele, isso aumentava o meu percurso uns 800 metros, fui pelo caminho preparado para brigar, se alguém se metesse a besta.
 Mas qual, a simpatia do neguinho era fatal, em alguns minutos, já havia feito o que eu demorei umas semanas e, já o seu público havia aumento, na hora do descanso ele já mostrava a sua arte.
  Na volta, eu tinha que andar no passo curto dele, passávamos um descampado que levava ao lago, a mata à esquerda e o canavial do 11 à direita, seguia-se um pequeno pântano e chegava-se ao lago da horta e uma bifurcação, à direita vinha o campo do 14, bem em frente à mata.
 Corria entre os meninos, a lenda de uma cobra gigante que andava por aquelas paradas, dificilmente um guri não sentia arrepios, chegando à essa bifurcação.

 Em dias de chuva, devido à lama que se formava na estrada, o neguinho não conseguia subir o barranco da horta e, eu tinha que empurrá-lo morro acima.
  A cena era muito engraçada, toda aquela lama, eu com os chinelos nas mãos, escorregando e empurrando o Lucídio ladeira acima, eu gritando para ele colaborar e, ele se acabando de rir.
 Quase sempre, ficavam uns gaiatos do outro lado do campo, no barranco do mandiocal, eles sempre assistiam a cena e chamavam os outros meninos para assistir, quando chegávamos no pavilhão, estávamos cobertos de lama vermelha.
  Por essa época, o Roda estava com o habito de caçar cobras, para vender ao Instituto Butantã, eu fui à umas expedições que ele fazia na mata e, até inventei um cabo no bambu oco que prendia a cabeça da cobra, mantendo-a longe.

 Um dia, na saída, quando já íamos entrar na curva da horta, ouvimos um barulho na vegetação, voltamos e avistamos uma cobra enorme que media uns bons 12 metros, o Lucídio tremia de medo, eu estava fascinado, nunca imaginei ver uma daquele tamanho, se afastava lentamente na direção do lago.
  Resolvi que ia segui-la, para saber onde era o seu esconderijo, mais tarde eu chamaria o Roda.
  O neguinho ali parado, eu disse:
  _. Fique aqui mesmo, que eu já volto.
  E me apressei à bruta que, já estava longe... muito lenta, se encaminhou e quase desapareceu nas touceiras, sem fazer barulho continuei na espreita, na parte sombreada do lago havia uma enorme seringueira, embaixo da arvore, um buraco onde ela entrou muito devagar, quando metade do corpo dela havia passado, escutei uma correria atrás de mim, eram os amigos Edson, Téquinha, Spock, Adilson e Viana, vinham gritando e ao avistar metade da cobra silenciaram, ficamos os seis olhando.
  Ao final da cena, o Viana me deu uma piaba:
    _. Está maluco moleque?
  Voltamos para o caminho, imaginei que o Lucídio devia estar em pânico..., mas, espera aí...disse eu.
    _. Como foi, que vocês chegaram tão rápido?
  _O Lucídio chegou correndo, dizendo que você estava em perigo.... Não terminou a frase, desatou a rir, eu e os outros membros do sexteto caímos no mato de tanto rir.
O Lucídio, que não conseguia andar direito, acabara de quebrar a barreira do som.