quarta-feira, 12 de julho de 2017

A treta




  O time juvenil disputava o campeonato do D.E.F.E, era o ano de 1979 e eu jogava no infanto-juvenil, estava de torcedor, já que, à essa altura estávamos desclassificados do campeonato.
  Era o jogo de volta das semifinais, o adversário era o poderoso time da UE-21 Febem da Raposo Tavares, que aliás, nem existe mais.
  Era o jogo da volta, porque o primeiro havia sido disputado na casa deles...meteram a mão e o jogo terminou empatado em 1x1.
  . Naquele jogo, nosso time teve que esperar a escolta da polícia para sair da UE-21...então, nem precisava anunciar que ia ter a revanche.
  . Na bola mesmo, era quase impossível segurar o Tadeu, o Valdevino e o Baianinho, portanto...é claro, foi um chocolate.
  E a torcida provocava.
  . Sabe quando todo mundo pode prever o final da história???pois é, mas havia em nossa torcida, um tal de José Carlos, o Biriba, dentre todos os torcedores, era o que mais apupava, ofendia mesmo, os adversários.
  Os jogadores da FEBEM já estavam de olho nele.
  Metade do segundo tempo e o placar era 4x1 para nós...o gol deles foi contra, é claro, marcado pelo Zé Almir...outro gol contra.
  O técnico Ditinho resolve substituir o Vagner, pelo Celso Baiano.
  Bom...todos sabiam que o Celso só entrava em campo para brigar, (O Telê Santana fez o mesmo com o Anselmo, quando o Flamengo foi campeão mundial) portanto, estava desenhado o final do jogo.
  Nesse exato momento, o Tadeu ganhou uma bola no meio de campo, levou 5 adversários, fintou o goleiro, o goleiro caído, ele tocou a bola para o Baianinho que, parou a bola na linha do gol e saiu, o Valdevino vinha correndo e pulou de peixinho na bola parada.
  Foi demais, antes de se comemorar qualquer coisa, o Celso já estava botinando alguém no meio-campo e, outros jogadores trocavam chutes.
  Sururu formado, antes que a torcida entrasse em campo, como se fosse combinado, os jogadores da FEBEM correram para a direção da arquibancada...para pegar o Biriba.
  A tragédia anunciada virou comédia.
  O Biriba correndo e os caras atrás dele, em direção ao pavilhão 11.
  Eles aproveitaram a corrida e saíram do colégio, pelo mato da Sabesp, onde o ônibus os esperava.
  _O Biriba?
  _. Está correndo até hoje.

domingo, 9 de julho de 2017

O sangue na periferia

 
   Ah, você gosta de contar de se fazer de malandrão e contar historinhas??
  Então, eu vou contar uma real...
   Em 2002, ano eleitoral, o PT lança a sua última carta, na busca do Palácio do Planalto.
   Cansado de perder eleições nos guetos, para candidatos de direita, fecha um pacto com o P.C.C e, a partir de então, fica proibida a entrada de qualquer material eleitoral, que não fosse do PT, em todas as favelas, morros e condomínios da periferia de São Paulo.
   Habilmente, a figura do líder comunitário foi substituída pela do traficante e ou alguém de sua confiança.
   Os Raper's jamais dirão isso, eles fazem parte desse contexto, pregaram o ódio e prepararam a invasão e, ainda lucram com isso.
   Para a grande mídia o fato não tem importância, as vidas que se perderam, são só estatísticas.
   Essa, ninguém me contou, eu sou um sobrevivente.

  Salve Chácara Bela Vista, Zona Norte e os meus amigos que tombaram.

O quebra gelo.


   A pergunta que o jovem havia feito, demandava um pouco de reflexão, no suspense, todos esperavam uma resposta contundente.
   _Por que um jovem de escola pública da periferia, havia se juntado à estudantes de classe média, contra o regime???
   Podia ter respondido rápido, mas, respirei fundo e olhei o microfone, dava mesmo a impressão de profunda reflexão, um ar assim meio filosófico e compenetrado.
   Fez-se um silêncio de expectativa, a plateia entrou na minha pilha e, pacientemente esperou pela resposta, de acordo com o que eu dissesse viriam as palmas ou os apupos.
   De mão do comando e senhor absoluto da situação, respirei fundo e disse:
   _Pra pegar as meninas.
   Primeiro vieram as risadas e seguiu-se uns 5 minutos de palmas, um estudante da primeira fila deitou-se no chão, para rir melhor, como se alguém o tivesse descoberto.

Voltando ao movimento


   Acho que não me fiz entender nessa questão, não joguei pedras no sentimento civil dos paulistanos.
Primeiro, atribuir o vandalismo à pichadores é um disparate, pichadores não jogam tintas, muito menos tinta rosa.
   Segundo, falei do fato de não estar por ali, nenhum policial, ora estamos no bairro do Ibirapuera e não na periferia.
   E o candidato do governo aparece de madrugada, mostrando sua indignação, às vésperas da eleição, nossa que coisa.
   Não sei se você sabe, mas, a força policial responde ao governo do estado.
(postagem no Facebook, em 04/10/2016)

sábado, 8 de julho de 2017

Ah, me bata uma cebola.


   Já não basta as abóbrinhas cotidianas que nos enfiam goela abaixo, vem agora essa conversa de espionagem.
   Me pergunto, o que tem no Brasil, que mereça ser espionado???
   Nossa internet não tem 15 anos, tem locais no país que nem tem eletricidade, nem temos uma cadeira no Conselho de Segurança.
   A visão do mundo com relação à nós é:
   Saindo de Copacabana, você pega um cipó e cai na floresta amazônica e lá, se fala espanhol, para eles, o Brasil é o país mais importante, depois de ninguém.
   A conversa que o Obama ouviu foi essa:
   _Alô, é da portaria ?
   _Pois não.
   _Diz para o menino da quentinha, que a presidenta vai querer o rango sem pimenta.
   _Tá certo, vai apostar no bicho hoje???
   _Não, tô sem dinheiro...
   _Assistiu ao jogo???
   _Não, a novela estava boa.
   _É mesmo???me fala.
   _Teve o beijo gay.
   _De novo??
   _Desta vez foi de mulheres.

(postado no Facebook, em 06 de Julho de 2015)

sexta-feira, 7 de julho de 2017

Um título na marra



  . No primeiro ano do Dínamo Futebol Arte, em 1993, ainda havia o Buda na zaga, o Alex e o Ademar compunham o meio de campo com o Alemão, o Cosme, o Dener e o Lucas faziam um ataque rápido e o Elves, nosso goleiro, pegava e marcava gols, mas faltava o título da casa.
  No fim do ano, chegamos à final do campeonato do João XXIII.
  O seu Francisco do Palmeirinha era o organizador, o Barcelona do Jd Arpoador foi o outro finalista.
  Ainda que, meu time estivesse voando baixo, não tínhamos reservas, geralmente, a parada se resolvia na hora e, se alguém se machucasse, ficava em campo ou o time jogaria com menos um atleta, até porque, só possuíamos 10 camisas de linha e a do goleiro.
  O campo do Uirapuru estava lotado, o jogo não deixava a desejar, na véspera, havíamos participado de um festival no Rio Pequeno e a qualquer hora o time ia dar sinais de cansaço, o técnico do Barcelona sabia disso e veio preparado, trouxe dois time para campo.
  A habilidade do meu meio de campo era conhecida, o Alemão e o Ademar mandavam em campo e levamos o jogo para o intervalo, com a vantagem de 2x0, na volta, havia um novo time para enfrentarmos, totalmente descansado, se o nosso time já ‘ficava sem fôlego, eles estavam novinhos em folha.
  Na metade do tempo, eles marcaram o primeiro gol e não demorou para vir o gol de empate, sem nada mais a fazer, mandei meu time recuar para aguentar o empate, foi então que reparei que o time que saíra de campo, estava todo na sombra do vestiário, esperando para voltar na prorrogação.
  Nessa época eu não tinha um auxiliar, minha filha, que seria mais tarde a minha auxiliar tinha 6 anos e estava lá, olhando os irmãos dela...tive que discutir comigo mesmo, para acertar o que eu ia fazer, para sair daquela Zica.
  Meu time, já exausto, não sofreu o terceiro gol e conforme a partida ia se aproximando do final, o adversário foi diminuindo os ímpetos, à essa altura o time reserva deles já se aquecia.
  Fui ao carrinho do meu bebê, que dormia, vigiado pelo cachorro Boomer e peguei a tabela do campeonato, olhava para o jogo, gritava com os jogadores e disfarçava que lia o regulamento do campeonato, pois, sabia que todos me observavam.
  O juiz apitou o termino, o outro time que já havia se aquecido, entrou em campo, para chutar bolas ao gol, como é hábito dos meninos, meu time saiu, mandei que se sentassem na arquibancada, eles estavam só o pó da rabiola, meninos de 12 anos, valentes feito adultos.
  O juiz já saíra do campo e conversava com o seu Francisco, no barzinho dele, tomei folego, vesti a minha máscara de diretor e fui ao seu encontro.
  _E aí, juiz...vai marcar o nome dos batedores agora???
  O juiz, que era filho do seu Francisco, chamou o pai, o pai se mostrou mais surpreso que o juiz, foi chamar o Arlindo e o Nenê, os técnicos do Barcelona.
  Começaram um bate-boca sem fim, acerca do regulamento do campeonato, outras pessoas vieram em socorro do adversário e outras, para socorrer os organizadores, no outro lado do campo eu podia visualizar os meus filhos e os atletas do Dínamo, sentados à minha espera, o bate-boca se acalorava, fomos todos para a mesa, procurar o regulamento, não havia nenhum lá e, era só o que eu precisava saber.
  Com o meu regulamento na mão gritei firme:
  _O regulamento, que todos assinaram, é bem claro... em caso de empate na final, a disputa será nos pênaltis, enquanto eu lia, mostrava com o dedo indicador a cláusula e o parágrafo.
  Os dirigentes do Barcelona mostraram-se indignados, parte da torcida gritava para ter mais jogo, a outra parte pedia para se cumprir o regulamento.
  Respirei fundo de novo e coloquei outra máscara, fui calmamente à mesa e disse:
  _Se vocês fazem tanta questão desse título, podem leva-lo, passa para cá o troféu de vice que eu já estou cansado disso tudo e, caminhei lentamente, para o lado que a minha turma estava acampada.
  Antes que eu pudesse chegar neles, o juiz me alcançou e disse para eu dar a lista dos 5 batedores.
  Ganhamos os pênaltis por 5x3, arrebanhamos o troféu e comemoramos com uma volta olímpica no campo.
  Quando estávamos saindo do campo, bem ao lado da creche, o Alex, que havia pego o regulamento, leu:
  _"Em caso de empate na final, haverá prorrogação com 2 tempos de 15 minutos".
  Arranquei o papel da mão dele e gritei:
  _Cala a boca moleque, quando chegar nos predinhos, todo mundo sai correndo.

quarta-feira, 5 de julho de 2017

No caminho da escola II




  . Quando se reuniam, os internos do Educandário Dom Duarte, dificilmente se podia tirar proveito do conteúdo das conversas produzidas por eles, na grande maioria dos diálogos haviam piadas sobre os amigos, cantigas sobre a comida do irmão Simão, aventuras nos pavilhões e bravatas sobre futebol.
  E tendo, os internos um vocabulário próprio, com palavras que só faziam sentido para eles, qualquer coisa que tivesse duplo sentido era recebida com um sonoro Nóóó!... e vinha depois uma enorme gargalhada conjunta, o autor da mancada era vítima de chacotas, até que se achasse um fato diferente para se rir.
  Quem sabe se, o seu Valdemar não tivesse sido tão agressivo no dia da carne e, então, ele tivesse evitado os meses que sofreu na mão dos meninos do Educandário Dom Duarte, pois é sabido que, um apelido só pega, se o apelidado se nega a recebe-lo.
  Não que os meninos fossem galhofeiros por natureza, nesse caminho que os conduzia até a escola, raramente se via, algum deles que saísse da calçada e tinham, por habito, cumprimentar os adultos que moravam na avenida vizinha, pessoas como o seu Alfredo, que cuidava de uma horta do outro lado da avenida e passava por eles com um carrinho de mão sempre carregado de verduras, o seu Pascoal ou o seu Valter, que era policial, à essas pessoas, os meninos saudavam com entusiasmo de dar inveja à meninos de colégios de freiras.
  Mas, o caso do sapateiro acabou esfriando, talvez por conta da consideração que tinham pelo seus filhos Jorge e Verônica, que estudava com eles, ou talvez tenha sido porque, a partir de um tempo, ele não mais respondeu aos insultos dos meninos...sabe-se que, um dia esfriou o caso e a vida voltou ao normal.
  O caminho pela estrada velha de Cotia era longo, os meninos iam em bandos, uma turma aqui, outra adiante e outra mais atrás e, ainda que, alguns meninos nem se falassem, iam juntos, vivendo essa aventura.
  Num dia, quando o sereno mal se dissipava e já havia passado o campinho dos predinhos, ali seguia uns terrenos desocupados com mato alto, antes da última curva que seguia para o Attiê, os meninos tiveram uma visão que mudaria a monotonia do caminho.
  Do alto da calçada, puderam ver que, do lado do casebre, que ficava numa parte mais baixa, umas folhas de bananeira se mexiam, pararam, pensaram se tratar de algum bicho e passaram a fazer conjecturas, a turma da frente voltou, a turma de trás se juntou ao bando e as folhas, numa distância de uns vinte metros, se mexeram mais forte.
  Para espanto dos meninos, alguns já se armavam com pedras e paus, um homem se levanta da moita, as calças arriadas e, como ele estava de costa para pista, exibiu sua nádega muito branca para plateia que havia se formado.
  Depois do espanto e da especulação, havia menino que não acreditava naquilo, aquilo não podia estar acontecendo, alguns se sentaram na guia para poderem rir.
  Ora, se fossemos adultos, viraríamos as caras para o outro lado e seguiríamos nossos caminhos e, o caso seria brevemente esquecido...mas qual, a coisa tomou proporções gigantescas, os que viram, contaram para os que não viram e o assunto dominou, acima de todas as matérias que foram dadas na escola, naquele dia.
  Na saída, todos que não viram ficaram sabendo da casa que se tratava e estava vazia, pararam ali e alguém gritou:
  _Ô...BUNDA.
  No dia seguinte, o homem estava em casa, lá de cima os meninos começaram a gritar BUNDA, o homem abaixou-se e pegou umas pedras e as lançou contra eles, desviando das pedras, os meninos insistiram BUNDA e correram para escola.
  E, como eram meninos de fanfarra e sabiam marchar e cantar, na saída, passaram em frente à casa em passo de desfile, cantando juntos, em tom marcial:
_Tá gá dá gá dá BUNDA Tá gá dá gá dá BUNDA Tá gá dá gá dá BUNDA.
Irritado, o homem se arma com um porrete e corre atrás do bando.