quarta-feira, 28 de junho de 2017

3 atos do teatro do Educandário Dom Duarte (parte 2)


  O segundo ato acontece no ano de 1979, durante o apogeu da produção teatral do Educandário Dom Duarte e quero, através desta, trazer à memória do leitor (a), uma figura inesquecível, o Zezinho da cozinha.
   Outro funcionário que havia sido interno, dentre esses, o mais amado e odiado, acima de qualquer querência ou ódio, uma personalidade ímpar.
   Na minha memória, o Zezinho foi imortalizado por três cores:
   Branca...o cidadão era o braço direito do irmão Simão e usava um avental branco, quando se buscava a comida na cozinha central (pavilhão 23), se se reclamasse da demora da marmita, o sujeito se debruçava no balcão e dizia poucas e boas, no caso de insistência na reclamação, ele dizia palavrões e chamava para o pau.
   Preta...nos jogos do campeonato interno, ele usava um terno negro, sua diminuta estatura se agigantava, quando apitava os jogos, imitava o Romualdo, com direito às desmunhecadas e tudo.
   Azul...azul era a cor do rei na peça "Aquarela", papel que coube ao Zezinho.
   Não teve um curso de interpretação, tão pouco cursou uma universidade, era um raro ator e sua presença de palco ofuscava os profissionais.
   A situação não andava boa para ele, meses atrás, O Carlos Augusto havia arrebatado um prêmio, vivendo um Jesus negro, a última cena foi de uma grandiosidade tal que, ele foi crucificado aos olhos do público, os contrarregras também foram aclamados.
   O Luís Antônio, no teatro da Liga das Senhoras Católicas, quando ainda se localizava à rua Jaceguai, viveu o "Galo de Belém" arrebatou o público, a peça era um monólogo, o ator tinha que ficar, o tempo todo, enfiado numa fantasia de galo, havia na plateia, um crítico do Estadão, a chamada da matéria foi:
   "NASCE UMA ESTRELA"
   O teatro do Educandário Dom Duarte mostrava ao mundo sua capacidade e faltava a estrela do Zezinho se mostrar.
   Vivendo o papel do rei na peça "Aquarela", havia uma cena que o roteiro embarrigava, ele tinha que mostrar que era implacável, se aproveitando de o fato da metade da plateia não gostar dele, ele se dirige a eles e pergunta:
   _. Um mais um não é três???
   Os meninos na plateia se levantam e, numa só voz, gritam:
   _NÃO.
   O ator se vira para o palco e continua o diálogo:
   _. Não disse?? Um mais um é três.
   A plateia reconhece imediatamente o recado e o aplaude, interrompendo por cinco minutos a peça.
   Essa cena teve que ser reescrita, não havia nada disso no original.
   Esse rei deu ao Zezinho uma menção honrosa, concedida pelo teatro da USP.

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