segunda-feira, 13 de março de 2017

A latinha

Tem horas que dá vontade de xingar.
Você já foi deitar cansado, ajeita a cabeça no travesseiro e solta o último suspiro, aquele suspiro que te separa da consciência, nesse instante você sente que o peito está congestionado_Que coisa, não vai dar pra levantar.
Nesse momento, as pernas e as mãos já te abandonaram, só resta dormir assim mesmo, o cérebro já está lento...
De lá, do fundo da consciência, uma vozinha te diz:
_A latinha está embaixo do travesseiro.
Lutando contra o sono, a mão tateia e acha a latinha, mas pára, o sono é implacável.
A consciência te acorda, lembrando que a coisa pode ficar pior, lutando muito contra o sono, a mão traz a latinha para o encontro da outra e para...foi o sono que veio.
Segundos depois, a consciência volta, de posse da latinha, suas mãos passam a tentar abri-la, logo no dia que você cortou as unhas, segue uma luta ferrenha entre os dedos e a tampa da latinha, um palavrão cai bem agora...mas, cadê a voz???
Outra vez, o sono te acalma e paraliza_deixa pra lá_diz a vozinha e tudo se apaga.
Mas a consciência te acorda, segue um tempo pra você lembrar o que estava fazendo..._Isso, a latinha.E, recomeça a luta... a tampa e a unha.
Muito tempo depois, entre o sono e o desespero da batalha, a lata se abre, você passa o dedo, procurando o creme milagroso...vazia.
Filha d......o sono tomou conta, já era.

terça-feira, 7 de março de 2017

Meninas e meninos são diferentes...


E, se engana quem pensa que é função dos avós educar os netos, educar os filhos já foi um serviço desgastante, ver os filhos desobedecendo a tudo e dando certo na vida, nos faz ver que a vida vai mesmo é com desarmonia. Quando fomos pais, carregávamos o fardo da responsabilidade de, sem saber o resultado, dar o nosso melhor pra não falhar, envelhecemos e descobrimos que não precisava ser tão duro, de um jeito mais tranquilo se conseguiria o mesmo resultado. Tornamo-nos avós, quando temos a tranquilidade da visão longa e todo o carinho que faltou aos filhos, os netos ganham com juros e correção.
Portanto, nossa função é ensinar aos netos a fazer foleragem, ver um neto arremessando uma pedra ou subindo numa árvore, tem o mesmo peso de um diploma do filho.
Nessa batida, ensinei meu neto Miguel a jogar dominó, não aquele ensinamento didático, de regras e tudo mais, aquela coisa chata de escola, ensinei como o dominó é jogado nos bares, olho no olho, gritando, contando pedras, blefando e xingando o adversário.
É da natureza dos meninos, essa competitividade sadia, aprendeu comigo e desafiava o pai, depois de certo tempo, passou a bater no pai e a chama-lo de marreco.
Uma tarde simulei uma aposta, usamos as notas falsas do Banco Imobiliário começamos as partidas, quando ganhava gritava pra comemorar, quando perdia alegava que havia sido roubado. Tarde à dentro prossegue o jogo, numa concentração de dar inveja num profissional, meu dinheiro foi acabando, travou o jogo e na contagem das pedras, virou a bucha de branco:
_Toma marreco. E subiu na mesa, pôs-se a dançar.
Falido e sem graça, não me restou nada, senão cobrir o rosto e, diante da dança da vitória, lamentar:
_Meu Deus, eu criei um monstro.
Dia desses a neta estava em casa, resolvi ensinar o mesmo jogo pra ela, é claro que a menina é mais delicada por natureza e a gritaria a assustou no início, mas eram dois mestres a ensiná-la e foi fácil, bastaram algumas horas e estava entendendo tudo.
Bateu o jogo, timidamente colocou a pedra na mesa e anunciou a vitória, o primo, apesar de ser mais novo, pegou a pedra e disse:
_Julia, é assim que se faz_ bateu a pedra com violência e gritou:
_Bati marreco.
Tive a nítida impressão de que ela jamais faria a coisa desse jeito, ter ganhado ou não, não lhe fez a menor diferença.
Recolhi todas as pedras, embaralhei-as e cada qual pegou as suas sete.
_Julia meu amor, Já que você bateu agora você sai. Disse eu.
A menina levantou-se da cadeira, foi até a minha, me deu um beijo na testa e disse:
_Depois eu volto tá vovô. Disse isso e foi-se embora.
Com a boca aberta ficamos, eu e Miguel, sem acreditar no que havia acontecido.
Ficamos assim por uns longos minutos, depois o neto bateu no meu ombro:
_Deixa vô, ela é menina.

O avô e o neto

Dois caras, passeando à toa, como toda manhã.
eles estão numa bicicleta, dessas com cadeirinha
pra criança.Tem um radio instalado e, como sempre,
a trilha sonora é clube da esquina, os dois cantarolam,
acompanhando a música.
Miguel= Vô, me fala...
Nilton= Fala o que ??
Miguel=O que você é do meu pai??
Nilton=Sogro
O menino ouviu a resposta e a palavra era nova, fez um
ar de reflexão, pareceu que mentalizava-a pra não
esquecer mais, instante depois, distraiu-se e voltou
a cantarolar e o passeio continuou na paz.
Cinco minutos depois, desandou a rir, um riso de
criança, riso honesto.O avô parou a bicicleta na guia
e parado perguntou:
Nilton=Que aconteceu, menino???
Miguel=KKKKKKK, o vovô é OGRO.

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Nome de anjo.



Todas as mães estão cansadas de saber que essa coisa dá errado, chamar uma criança por nome de anjo é como dar aval, a um tipo de comportamento e, acaba sendo um desculpa.Esse tipo de guri leva a pessoa ao extremo, já no extremo, a pessoa, ao invés de gritar uma blasfêmia, grita um nome bonito.No fundo da minha casa, mora o Gabriel, ao lado dessa, vive o Samuel, são meninos silenciosos, quase não se ouve a voz deles.
Em compensação, de meia em meia hora as mães gritam:
_Fecha a torneira Gabriel, vai terminar apanhando.
_Para de subir no muro Samuel, não aguento mais.
É, nós também temos o nosso próprio anjo, aqui em casa.
Miguel, sua peste, não mexe na tomada, vai desligar o comput............

sábado, 4 de março de 2017

Já mudei de ideia.


  Sempre amei a nobre arte, desde muito pequeno fui devoto de Muhammad Ali, aquele semideus, que bailava nos ringues.
  Por conta disso, um lutador, no meu ver, tinha que ter classe.
  Eu e mais um bocado de pessoas, torcemos o nariz quando vimos um tal de Tyson despontar no mundo do boxe, aquilo não era luta, era um massacre.
  Em 1988, Larry Holmes era o dono do cinturão, longe da categoria de Ali, mas tinha um jeito cavalheiro de boxear, sempre que saía para trabalhar, aguardava o ônibus no bar do Klebão, lá dava pra ver quando ele entrava na rua João de Lourenzo, até ele descer a rua, dava tempo de chegar ao ponto de ônibus, que ficava no portão do Educandário Dom Duarte.
   O boteco do Klebão era o point dos esportistas, todo mundo que parava ali, pra uma brêja, ficava horas e horas falando de esporte, tinha uma televisão no balcão, a programação era só esporte, se saísse disso, a freguesia reclamava, a dona Célia não tinha direito nem a novela.
   Certa tarde, enquanto eu fazia um tempo por ali, um programa mostrou a luta, luta não...massacre contra um Zé Ruela, que o havia derrotado nas Olimpíadas, quando o cara caiu, já estava desacordado.
   Diante dessa atrocidade, mostrei minha indignação:
_Isso não é um lutador, trata-se de um animal, só o Holmes pra dar jeito nisso.
   O bar estava lotado, só duas pessoas me apoiaram, o Klebão e o Pascoal bicheiro, os outros 50 me vaiaram, o mais afoito deles era o Carlos Roberto Brigido e iniciou-se um bate boca, eu falava do boxe elegante do passado e ele enaltecia as qualidades do açougueiro Tyson, quando anunciaram que o buzão já iniciava a descida, eu já tinha fechado a aposta...uma caixa de cerveja e corri pro ponto.
Entre o dia da aposta e a luta, passaram-se uns meses e quando nos encontrávamos, provocávamos, nesse meio tempo o impiedoso baixinho atropelou uns dois adversários e eu dizia:
   Se cuida Mike Tyson The Legend, sua hora vai chegar, pode esperar.
   Nessa época eu trabalhava de vigilante no período da noite, assisti a luta na Usina Elevatória de Traição, portaria 4.
   Puts...passei vergonha, o Holmes não foi nocauteado, porque passou o tempo todo segurando o baixinho, no quarto assalto fiquei torcendo para ele soltar e ganhar uma porrada no meio da cara.
   Saldei a minha dívida e na primeira defesa de título do fenomenal Tyson, eu e toda a galera do bar do Klebão, pulamos de alegria, quando ele fez mais uma vítima.

sexta-feira, 3 de março de 2017

Pirataria

Um amigo, que é amigo de profissão e de rede social me perguntou porque eu passei a postar os vídeos com o link do meu blog e assiná-los.
  Para explicar, eu tive que contar uma historia... senta, que lá vai historia.
Tem 12 anos que me mudei pra Bahia, de mala e cuia, com esposa e filhos, e vim morar em Camaçari.
  Camaçari é vizinha de Salvador, quem mora em Camaçari, não fica sem ir, pelo menos, uma vez por mês, à capital e, como eu faço amizade fácil, conheci o Carlinhos.
   Carlinhos é um ambulante que vende artigos piratas na rampa que dá acesso à rodoviária de Salvador, muito comunicativo, como a profissão exige, mostrou-me uns CDs com filmes, os quais eu não havia assistido ainda, na época, eu não sabia da capacidade da minha internet e levei uns 5 CDs à um preço ínfimo, tudo bem.
   Ao chegar em casa deparei com essas porcarias que os caras gravam da poltrona do cinema, uns não tinham sincronia entre a ação e o áudio e, em todos eles, podia-se ouvir as risadas e os palavrões do público.
   Fazer o que???joguei no lixo e esqueci do assunto, todas as vezes que eu encontrava o Carlinhos, conversava, conversava e não comprava nada, no fim das contas era sempre, um bom papo.
   Tentando a todo custo me empurrar alguma coisa, me ofereceu alguns CDs de música, dessas músicas regionais, para não ser mal educado, disse-lhe:
   _Eu gosto de MPB, fora desse contexto, eu fico muito mal humorado.
   E, sempre que ele se sentia prejudicado, vinha com essa:
   _Pô, aí você me quebra.
   Dai em diante, se seguiu um longo tempo, em que ele tentava me empurrar um produto sorrindo e, eu, sorrindo, declinava.
   Nos últimos anos, como é natural acontecer, meus filhos cresceram, me deram netos e compraram carros, não exatamente nessa ordem, parei de tomar o ônibus para ir à capital, então, não vi mais o Carlinhos, nisso, se soma uns bons 3 anos.
   Conhece aqueles tiozinhos que gostam de viajar de ônibus???pois é, esse cara sou eu, driblei a carona dos filhos e do genro e, na véspera do último natal, peguei o buzão para Salvador.
   Na volta, quando principiei a subida na rampa da passarela, o Carlinhos me avistou, abriu o sorriso e os braços e nos cumprimentamos demoradamente.
   _Ô paulista, eu tenho cá um baguio que você vai gostar.
   Pegou uma caixinha de DVD muito bem acabada, colorida e me deu, li a capa:
   _150 vídeos com o melhor da Música Popular Brasileira.
   Já, o Carlinhos batia em minhas costas, com ar de quem já vendeu...._Hum, hum !!!
   Na parte de baixo, em letras menores, estava escrito:
   "extraídas do canal de NILTON VICTORINO FILHO".
   Pensei em soltar uma estrondosa gargalhada, mas, me contive.
   A cara de vitória do ambulante estava muito engraçada.
   Enfiei a mão no bolso das calças e tirei o RG:
   _Carlinhos, olha o nome que está escrito aqui.
   Ele pegou a cédula e a leu em voz alta, pegou o DVD e conferiu.
   Seguiu-se um breve silencio.
   _Caramba, pirateei o amigo.
   _O mínimo que você tem a fazer, é me dar esse de graça.
   Levou só uns centésimos de segundo a reflexão, colocou a caixinha perto das outras:
   _Aí o amigo me quebra.

Ainda invicto


Todo esse tempo e nunca fui assaltado, tem gente que pensa que é mentira, pode ser sorte ou é a lua mesmo.
Dia desses, eu me encontrava no lugar e no dia mais fácil de ser assaltado em Camaçari.
Em frente do Correio, do outro lado da prefeitura municipal, era feriado e se você quiser ser assaltado, esse é o lugar, se for feriado então, prato cheio.
Não que eu quisesse estar ali, estava com pressa e não queria entrar na rodoviária pra seguir viagem pra Salvador.
Havia no ponto sete pessoas, todas elas com celulares no ouvido, uma moto passou e parou ali na frente, dois ocupantes, o da garupa desceu, puxou o revolver que estava dentro da calça e anunciou o assalto, o único que teve o trabalho de tirá-lo do bolso fui eu, as outras pessoas já estavam com eles na mão e só entregaram, fui o terceiro que estendeu o celular, o assaltante fez que não viu.
Estiquei a mão e mostrei o meu celular:
_Meu irmão, não quero essa bosta não.
Recolheu todos os sete e eu enfiei o meu no bolso, subiu na garupa da moto e queimou o chão.
Situação embaraçosa, todo mundo com cara de tacho e, por consideração, me ofereci pra ligar pra polícia, todos concordaram.
_Não vai dar não, esqueci-me de carregar.